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2. PISANDO O CHÃO DAS COMUNIDADES DE LUCAS

2. Pisando o chão das comunidades de Lucas

     A obra lucana teve a sua redação final por volta do ano 85. Essa obra pode ter sido escrita na cidade de Antioquia da Síria, Éfeso, ou mesmo numa cidade da Grécia. Para nós, o mais importante é saber que surgiu numa cidade grande, sob o domínio do império romano e em comunidades fundadas por Paulo, compostas por estrangeiros/as e judeus cristãos. A grande maioria era pobre, mas havia também algumas pessoas ricas (cf. 1Cor 4,13). Essa mistura gerou vários conflitos internos. Além das dificuldades internas, as comunidades há muito tempo enfrentavam várias situações de sofrimento. O domínio do império romano foi marcado por guerras constantes pelo poder e por numerosos impostos. A situação do povo foi piorando cada vez mais.

     Muitas pessoas ficaram endividadas, perderam suas terras e acabaram tendo que trabalhar como arrendatárias, meeiras, diaristas ou mesmo sem trabalho (Lc 14,12-14). Vivendo nessa realidade, as comunidades cristãs entraram em crise. Eis alguns acontecimentos que marcaram profundamente a vida dessas comunidades:

 

  • Em 64 d.C., Nero começou a perseguir os cristãos em Roma.
  • Entre os anos 66 e 73 d.C., aconteceu a Guerra Judaica, tendo como consequência  o desaparecimento de vários grupos influentes na vida do povo judeu.
  • Por volta do ano 70 d.C., o templo e a cidade de Jerusalém foram destruídos. Os únicos grupos que sobreviveram foram o dos fariseus e o dos cristãos, que fugiram para as regiões vizinhas.
  • Por volta de 85 d.C., começa uma perseguição contra os grupos de judeus hereges;  entre eles está o grupo de cristãos, que é expulso da sinagoga.

 

     Após a Guerra Judaica, o grupo de judeus-fariseus procurou reconstruir e reorganizar o povo judeu na sinagoga. Pouco a pouco, esse grupo ganhou força, foi reconhecido pelo poder romano e recebeu o direito de cobrar tributo do povo judeu. Participar da sinagoga era uma espécie de carteira de identidade. As autoridades judaicas retomaram a rigorosa observância da Lei judaica, e quem desobedecia ou discordava era perseguido e eliminado. Foi o que aconteceu com o grupo de judeu-cristãos. Nesse período, as primeiras lideranças das comunidades cristãs, como Pedro, Paulo, Maria Madalena, já haviam morrido. As cristãs e os cristãos estavam vivendo num ambiente de mentalidade grega. Na cidade reinava a lógica  do lucro, do dinheiro e do comércio, inclusive de vidas humanas. O sistema escravista era predominante nas cidades greco-romanas. A competição, a ganância e o acúmulo de riquezas criaram um verdadeiro abismo entre ricos e pobres (Lc 16,19-31). A prática da partilha e  da solidariedade foi deixada de lado. Tornou-se um ideal muito distante. As comunidades cristãs sentiam-se perdidas, inseguras e sem rumo. Havia uma forte crise de identidade. Nesse contexto, era necessário fazer uma releitura da palavra e da prática de Jesus a partir da realidade da comunidade.

     Era preciso voltar às origens, procurando encontrar luzes para viver o momento presente. A realidade das comunidades exige atualizar a prática de Jesus. A existência de ricos cada vez mais ricos e a presença de miseráveis nas comunidades cristãs mostram que é preciso retomar a prática da partilha e da solidariedade (Lc 6,20-38). Por isso, o evangelho de Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos dão uma atenção especial às pessoas pobres e marginalizadas, insistindo na importância da partilha.

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Fonte https://leituraorante.comunidades.net/1-caminho-aberto-para-o-proximo